Catedrática jubilada da Universidade de Coimbra, Maria Helena da Rocha Pereira desenvolveu ao longo da sua carreira uma intensa actividade pedagógica e científica nas áreas da cultura clássica greco-latina, cultura portuguesa e latim medieval. Foi a primeira mulher catedrática da Universidade de Coimbra, tendo ensinado ao longo de 40 anos e publicado mais de 300 trabalhos, entre ensaios e traduções. Jubilada desde 1995, a especialista em culturas grega e latina, não abandonou a vida académica, continuando a orientar mestrados, a fazer conferências, a estudar e a escrever, estando ligada a trabalhos como a tradução completa da "Ilíada" de Homero.
“Gostaria de agradecer a distinção que acabo de receber, não apenas como prémio a uma vida de estudo – que escassamente poderia merecer – mas como expressão de apreço por altos valores culturais que nos devem ser caros a todos. Primeiramente, por se destinar a distinguir o ensaio como uma actividade intelectual que eleva uma sociedade, com base numa reflexão fundamentada, serena e objectiva, que não lhe é menos necessária do que o tão apregoado labor científico e técnico, de que também carecemos. Que tenha sido dado como patrono a este galardão o nome prestigioso entre todos de Eduardo Lourenço, meu colega e amigo desde os tempos conimbricenses, é outra mais valia deste acto. Mas há outros factos que merecem ser exaltados neste já tão promissor Centro de Estudos Ibéricos, acolhido na mais alta cidade portuguesa, sob o patrocínio das duas mais antigas Universidades da Península, que daqui são quase equidistantes.”
Maria Helena da Rocha Pereira [2005] - Revista Iberografias nº 1, CEI, Guarda, pp. 79.
“Maria Helena da Rocha Pereira é uma figura de grandeza nacional e internacional, com uma trajectória ímpar, que disseminou os seus conhecimentos por vários continentes e continua a desenvolver uma grande actividade, de forma surpreendente, sempre numa atitude de jovem pensadora do futuro. Por isso, atribuir o primeiro prémio a alguém que cultiva a cultura clássica é reconhecer as raízes do iberismo, é homenagear a fonte, a matriz daquilo que é hoje Portugal e Espanha. E isso é, simultaneamente, um sinal de humildade e grandeza”.
Veiga Simão [2005] - Revista Iberografias nº 1, CEI, Guarda, pp. 73.
Jornalista e correspondente da TVE (cargo que exerceu em Lisboa de 2000 a 2004), Agustín Remensal é natural de Zamora, o que ditou uma estreita ligação à fronteira e a Portugal, compartilhando vivências e tradições raianas. Destacou-se pelo seu trabalho literário e profissional ligado a Portugal e Espanha, incidindo nas culturas e identidades fronteiriças. O documentário “La Raya Quebrada” é uma obra de referência para a compreensão da história partilhada entre Espanha e Portugal.
“É esse o caminho continuado por este Centro de Estudos Ibéricos da Guarda: um lugar de encontro, de reflexão, de estudo e divulgação dos nossos problemas e das nossas ambições partilhadas. Foram poucas as vezes em que convergiram tantos factores positivos para alcançar tal fim. Duas universidades de referência na história da Europa, Coimbra e Salamanca, uma terra agreste e de fronteira e umas gentes de espírito aberto como o campo.”
Agustín Remesal [2006] - Revista Iberografias nº 2, CEI, Guarda, pp. 122.
Reconhecida internacionalmente como uma exímia intérprete de compositores do período clássico e romântico, como Mozart, Chopin, Schubert e Beethoven, a pianista Maria João Pires percorreu, e esgotou, as melhores salas de espectáculo do mundo. Exemplo excepcional de como o talento português ultrapassa fronteiras, Maria João Pires é hoje uma referência internacional. Cidadã do Mundo, defende a ideia de uma aproximação entre Portugal e Espanha por considerar que as diferenças culturais entre os dois países são no, no fundo, do mesmo tipo das que podem existir, por exemplo, entre a Catalunha e a Andaluzia. Maria João Pires destacou-se pelo trabalho de cooperação e intercâmbio cultural entre Portugal e Espanha, através do desenvolvimento de projectos comuns, com particular realce para os que têm tido lugar na região raiana.
“Mais do que referir os méritos da Premiada cabe-me sobretudo referir que ao homenagear Maria João Pires estamos a valorizar a matriz cultural de um espaço geográfico que se descobriu ao descobrir o Mundo e de onde continuam a partir os descobridores de um novo universo, desta feita interior, de sentimentos agora alcançados através do talento de uma grande Pianista. (…) Maria João Pires escreve, uma vez mais, o Prémio Eduardo Lourenço no feminino e acrescenta uma terceira interpretação desta partitura no harmonioso conjunto de sons musicais e de silêncios de que a sua arte é exemplarmente pródiga. É pois um dia dedicado a dois seres de excepção: um que dá o nome ao Prémio, Eduardo Lourenço, o outro que o recebe, Maria João Pires.”
Fernando Seabra Santos [2007], Revista Iberografias nº 3, CEI, Guarda, pp. 106-107.
Natural de Badajoz, Ángel Campos Pámpano (1957-2008) distinguiu-se enquanto poeta, tradutor, editor e professor. Director da revista bilingue “Espacio/Espaço Escrito”, um projecto inovador no domínio das relações literárias entre os dois países ibéricos, traduziu destacados poetas portugueses como Fernando Pessoa, António Ramos Rosa, Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andersen, Ruy Belo e Al Berto, entre outros. Ángel Campos Pámpano interpretou singularmente a Fronteira, entendendo-a como forma de comunicação e não de separação. Em 2005 recebeu o Premio Extremadura a la Creación pelo livro “La semilla en la nieve”. A sua obra foi recolhida em diversas antologias.
“Quiero reiterar la ilusión y el orgullo que siento por recibir el Prémio Eduardo Lourenço, que reconoce la tarea que llevo desarollando desde hace décadas pero reconoce, sobre todo, el destino extremeño de relación con Portugal. De forma singular, que este premio lleve el nombre de mi querido Eduardo Lourenço es motivo de mayor alegria y me reafirma en el sentido que tiene esta tarea de lectura, traducción e impulso en el mutuo conocimiento de nuestras culturas, una tarea que el Centro de Estudos Ibéricos realiza con acierto y generosidad.”
Ángel Cámpos Pámpano, excerto da carta enviada ao CEI, agradecendo a distinção concedida. (O Prémio seria entregue a título póstumo; o Poeta faleceu dias antes da Cerimónia.)
Jorge Figueiredo Dias é Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Ensinou Direito Penal, Processo Penal e Ciência Criminal naquela Faculdade e, entre outras funções, integrou o Conselho Científico da Faculdade de Direito de Macau e foi membro do Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa. Também foi presidente da Comissão de Revisão do Código Penal e do Código de Processo Penal, membro do Conselho de Estado (1982/1986) e deputado à Assembleia da Republica de 1976 a 1978. Personalidade incontornável da nossa ciência jurídica nacional e internacional, Figueiredo Dias desenvolveu um trabalho relevante em Portugal e Espanha no âmbito das ciências jurídicas e em particular no Direito Penal.
“Jorge de Figueiredo Dias é uma personalidade importantíssima da ciência jurídica portuguesa, tendo paralelamente colaborado e contribuído para o estreitamento de relações universitárias, académicas e científicas, na área do Direito Penal, entre Portugal e Espanha. Neto de espanhóis, Figueiredo Dias é uma personalidade importantíssima da ciência jurídica e, em particular, do Direito Penal".
Fernando Seabra Santos, Presidente do júri da 5ª edição do Prémio Eduardo Lourenço
Escritor e poeta espanhol, Cesar Antonio Molina nasceu na Corunha em 1952. Licenciou-se em Direito e em Ciências da Informação e doutorou-se cum laude com um trabalho sobre «A imprensa literária espanhola». Foi professor de Teoria e Crítica Literária na Universidade Complutense e, nos últimos anos, de Humanidades e Jornalismo na Universidade Carlos III. Foi Director do Instituto Cervantes e do Círculo de Belas Artes de Madrid e Ministro da Cultura, de 2007 a 2009.
“Cesar Antonio Molina destaca-se nas suas actividades literárias e culturais que estão intimamente relacionadas com o espírito ibéricos do Prémio. Como escritor, destacam-se obras de ensaio, prosa e poesia. O seu trabalho cultural a partir do Círculo de Belas Artes de Madrid ampliou os laços peninsulares com a criação da “Semana Cultural Portuguesa”. Como Director do Instituto Cervantes intensificou a colaboração ibérica com o Instituto Camões, realizando acções conjuntas que se viram reforçadas através do Ministério da Cultura do Governo de Espanha.” - Júri da 6ª edição do Prémio Eduardo Lourenço
António Emílio Leite Couto (Mia Couto), jornalista, biólogo e escritor é uma das figuras mais importantes da cultura moçambicana. A criatividade e os contornos transversais da obra, a heterodoxia lexical a que recorre e o empenho cívico assumidos por Mia Couto transformaram-no numa referência cultural do espaço lusófono, num interlocutor privilegiado e potenciador do diálogo plural e aberto que importa aprofundar com o mundo ibero-americano.
A obra criadora de Mia Couto representa um contributo assinalável para a construção de uma Língua portuguesa de matriz planetária. A edição dos seus livros nos países de língua portuguesa (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique) e latino-americano (Espanha, Argentina, Chile, México) fazem de Mia Couto o principal mensageiro africano da lusofonia nos espaços de expressão ibérica, funcionando a sua obra literária como importante estimulo ao diálogo, uma ponte aberta à cooperação cultural entre África, Europa e América Latina.
Em certo sentido, a multipolaridade da sua matéria literária cumpre o desígnio de uma outra “Jangada de Pedra”, de natureza cultural, que expressando ao mais alto nível a condição humana, amplia a realidade idiomática, tão rica em diversidades, do nosso intemporal falar global.
Empenho cívico e percurso criativo, valores caros a Eduardo Lourenço, ancorados numa obra que transcende as fronteiras matriciais ou as que delimitam o respetivo universo ficcional levam a reconhecer Mia Couto como um autor cujo contributo é inestimável para estreitar a cooperação e difundir a cultura ibérica a territórios situados para além do restrito espaço peninsular europeu.
José María Martín Patino nasceu em Lumbrales (Salamanca) em 1925. Licenciado em Filosofia e doutorado em Teologia desenvolveu uma intensa atividade de cariz social e litúrgico em Espanha. Foi fundador e presidiu à Fundación Encuentro, uma reconhecida plataforma de debate de cariz independente cujo objetivo é a análise dos principais problemas da sociedade espanhola, promovendo espaços de compreensão e consenso.
Para além do protagonismo histórico e do papel que desempenhou nos anos da transição para o regime democrático em Espanha, o júri considerou relevante a trajetória e a atividade de Martín Patino e da Fundación Encuentro no desenvolvimento sócio-económico e coesão territorial na ampla zona transfronteiriça entre Portugal e Espanha, nomeadamente através do projeto “Raya Duero, iniciativa de formação e educação nos meios rurais de baixa densidade.
José María Martín Patino tinha já sido anteriormente galardoado pela sua atividade em prol dos valores da tolerância, do diálogo, do humanismo e pelo trabalho em defesa da coesão social, por diversas entidades, sendo de destacar a atribuição, pela Rainha de Espanha, em 2009, da Cruz de Ouro da Ordem Civil e da Solidariedade.
Jerónimo Pizarro, cidadão da Colômbia e de Portugal, professor da Universidade dos Andes, titular da Cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia e doutor pelas Universidades de Harvard (2008) e de Lisboa (2006), em Literaturas Hispânicas e Linguística Portuguesa. No âmbito da Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa, publicadas pela INCM, já contribuiu com sete volumes, sendo o último a primeira edição crítica de Livro do Desassossego. Em 2013, assumiu funções de comissário da presença portuguesa na Feira do Livro de Bogotá (Colômbia).
O júri decidiu atribuir o Prémio a Jerónimo Pizarro em reconhecimento do seu papel no desenvolvimento e divulgação dos estudos pessoanos e da sua atividade como promotor da cultura portuguesa no espaço ibero-americano.
António Sáez Delgado é professor de Filologia Hispânica na Universidade de Évora, tendo-se destacado pela tradução de grandes vultos da cultura portuguesa contemporânea como Fernando Pessoa, António Lobo Antunes, Manuel António Pina, José Gil e Teixeira de Pascoaes, entre outros. Considerado o especialista do Modernismo na Península Ibérica, António Sáez Delgado é um investigador raiano que cruza fronteiras há mais de uma década.
O Júri decidiu atribuir o Prémio a António Sáez Delgado pelo seu relevante papel no âmbito da cooperação e da cultura ibéricas, realçando as facetas de mediador cultural, escritor, investigador e professor, que o colocam na vanguarda deste campo da Cultura. De referir, igualmente, o seu trabalho enquanto Diretor da Revista de Literaturas Ibéricas “Suroeste”.
Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa, celebrizada pelo pseudónimo literário Agustina Bessa-Luís, nasceu em 1922, em Vila Meã, Amarante. Talvez esta aproximação ao Douro da sua infância, que levou consigo mais tarde se instalou no Porto, tenha sido determinante como pano de fundo para a maior parte dos seus romances.
Agustina, que cedo demonstrou interesse pela Literatura Portuguesa e Inglesa em particular, obteve um lugar de destaque quando publicou A Sibila, em 1954. Esta obra, estudada durante décadas em escolas e universidades, constituiu um enorme sucesso e abriu-lhe portas para o reconhecimento público da sua grandiosa carreira literária.
Se muitos foram os romances que escreveu, não podem ser esquecidas as peças de teatro, as biografias, as crónicas, os ensaios, testemunhos de um corpus literário diversificado. A ligação ao cinema e ao teatro associam-na a nomes como Manoel de Oliveira, que adaptou ao cinema e ao teatro muitas das suas obras, e Filipe La Féria, que adaptou e encenou As Fúrias para o Teatro Nacional D. Maria II. Foi deste mesmo Teatro que foi Diretora entre 1990 e 1993.
A obra da Escritora tem uma projeção internacional de relevo, estando traduzida em várias línguas. A acompanhar esta projeção internacional da sua escrita, Agustina foi membro do Conselho Diretivo da Comunitá Europea degli Scrittori (Roma, 1961-1962), e é membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris) e da Academia Brasileira de Letras. Foi distinguida com o grau de «Officier de lÓrdre des Arts et des Lettres», atribuído pelo Governo Francês em 1989, e com o Grau-Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espanha, em 1981, tendo recebido ainda a Grã-Cruz da mesma Ordem, em 2006.
Para além destas distinções, a obra de Agustina Bessa-Luís obteve importantes prémios literários: o Prémio Delfim Guimarães (1953), o Prémio Ricardo Malheiros (Academia das Ciências de Lisboa, 1966 a 1977), o Prémio Adelaide Ristori (Centro Cultural Italiano de Roma, 1975), o Grande Prémio do Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1983 e 2001), o Prémio da Crítica (Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1993), o Prémio União Latina (Itália, 1997), e o Prémio Camões (2004) o mais importante galardão da língua portuguesa. Em 2005, pouco antes de se retirar da vida literária, por motivos de saúde, Agustina recebeu ainda o Prémio de Literatura do Festival Grinzane de Cinema de Turim.
Agustina Bessa-Luís é uma figura referencial da literatura portuguesa e da língua portuguesa, tendo a sua obra ancorado a produção literária das últimas décadas e inspirando escritores, ensaístas e leitores.
Luis Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, em 1949. Da sua vasta obra (toda ela traduzida em Portugal), destacam-se os romances O Velho que Lia Romances de Amor e História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar. Mas Mundo do Fim do Mundo, Patagónia Express, Encontros de Amor num País em Guerra, Diário de um Killer Sentimental ou A Sombra do que Fomos (Prémio Primavera de Romance em 2009), por exemplo, conquistaram também, em todo o mundo, a admiração de milhões de leitores. História de um cão chamado Leal é o seu 17º livro na Porto Editora.
O Júri da 12ª edição do Prémio Eduardo Lourenço reconheceu o trabalho de Luís Sepúlveda em louvor da Língua e da Cultura espanholas e a expressão e difusão da sua obra tanto em Portugal como em Espanha, que o tornam um mediador da Cultura Ibérica.
Jornalista e escritor, natural do Fundão, foi chefe de redacção e director do “Jornal do Fundão”. Em 2013, foi-lhe atribuída a Medalha de Honra da cidade do Fundão, e foi distinguido com o Prémio Gazeta de Mérito do Clube dos Jornalistas, em 2014. Tem obra literária multifacetada. Escreveu, entre outros, “A Guerra da Mina e os Mineiros da Panasqueira” (com Daniel Reis), é autor de textos dramáticos, como “O Foral: Tantos Relatos/Tantas Perguntas”, encontra-se representado em obras colectivas, designadamente nos volumes “Identidades Fugidias” e “A Mãe na Poesia Portuguesa”. É, também, autor de “Os Fantasmas Não Fazem a Barba” (ficção), “Os Olhos do Medo” (conto), e de “A Materna Casa da Poesia. Sobre Eugénio de Andrade” (ensaio). No ensaísmo deve referir-se ainda “Miguel Torga em busca de uma humanidade nova a inventar” in “Ensaísmo e Pensamento Crítico na Catalunha e em Portugal”. Reuniu muitas das crónicas nos dois volumes “Crónica do País Relativo - Portugal Minha Questão”. É co-autor, com Alexandre Manuel, da Fotobiografia “António Paulouro, 100 Anos Depois” e organizou a “Antologia António Paulouro, As Palavras e as Causas”. Este ano publicou o romance “Fellini na Praça Velha”.
O Júri da 13ª edição do Prémio Eduardo Lourenço reconheceu a projeção cultural e ibérica do jornalista, escritor e cronista e a sua notória vocação cultural e cívica, desenvolvida ao longo dos últimos 50 anos no Jornal do Fundão, órgão de referência na história da imprensa nacional, onde foi jornalista, Chefe de Redação e Diretor.
O Júri da 14ª edição do Prémio Eduardo Lourenço decidiu atribuir o galardão ao professor, investigador, tradutor, crítico literário e escritor Basilio Losada Castro, reconhecendo o seu mérito como filólogo e investigador da língua e cultura galega e portuguesa, que reúne na sua biografia uma característica que o singulariza no contexto das relações e estudos de natureza ibérica: é natural da Galiza e estudioso da sua cultura e literatura e foi o primeiro catedrático de Filologia Galega e Portuguesa na Universidade de Barcelona, onde desenvolveu a sua vida profissional. Realizou a sua monumental obra como tradutor tendo como base as línguas portuguesa e espanhola, materializando desta forma a sua condição do intelectual ibérico, aberto ao diálogo e à permeabilização entre as diferentes línguas e culturas do nosso território. Soube também acrescentar a este mosaico a componente ibero-americana, uma vez que fez da literatura brasileira um dos seus espaços favoritos, tanto para a investigação como para a tradução. Da lista de autores traduzidos por Basilio Losada destacam-se, entre outros, Jorge Amado, José Saramago (por cuja tradução do “Memorial do Convento” recebeu, em 1991, o Premio Nacional de Tradução), Rosalía de Castro, Pere Gimferrer. A sua obra é exemplo de uma abertura de olhares paradigmáticos no contexto peninsular. O seu trabalho continua a ser uma referência indubitável para várias gerações de iberistas em todos os territórios culturais que abarcam a sua obra gigantesca: Espanha, Portugal, Galiza, Catalunha, Brasil.
O Júri da 15ª Edição do Prémio Eduardo Lourenço, decidiu, por consenso, atribuir o Prémio ao professor e investigador Carlos Reis, reconhecendo o seu mérito como investigador e professor universitário e a sua trajetória que objetiva um trabalho de cooperação entre os âmbitos académicos e culturais de Portugal e Espanha, cuja aproximação substanciada e crítica, sempre o mobilizou e fomentou como responsável de diferentes instituições e organismos públicos, contribuindo a um intercâmbio cultural de alto valor ibérico. Referente dos estudos de Eça de Queirós e José Saramago, para além dos estudos literários e da teoria literária, a sua obra tem uma ampla repercussão em Espanha, na Europa, no Brasil e Estados Unidos.
Especializado em Literatura Portuguesa dos séculos XIX e XX e em Teoria da Narrativa, publicou sobre esta área vários livros de prestígio internacional e assinou dezenas de artigos em revistas universitárias. Publicou, entre outras, as obras seguintes: Textos Teóricos do Neo-Realismo; Estatuto e perspectivas do narrador na ficção de Eça de Queirós; O Discurso Ideológico do Neo-Realismo Português; Dicionário da Narratologia (em colaboração com Ana Cristina M. Lopes); Para una semiótica de la ideologia (tradução parcial de O discurso ideológico do Neo-Realismo Português); A Construção da Narrativa Queirosiana. O Espólio de Eça de Queirós (em colaboração com Maria do Rosário Milheiro) e coordena a História Crítica da Literatura Portuguesa e a Edição Crítica da obra de Eça de Queirós.
O Júri da 16ª Edição do Prémio Eduardo Lourenço, decidiu atribuir o Prémio ao Professor Catedrático jubilado da Universidade de Salamanca e investigador Ángel Marcos de Dios, em reconhecimento do seu mérito académico e científico na área da Língua e Literatura portuguesas e a sua longa e profícua dedicação ao desenvolvimento e aprofundamento das relações culturais e académicas entre Portugal e Espanha.
Ángel Marcos de Dios foi um dos principais impulsionadores do crescimento e representatividade dos Estudos de Língua e Cultura Portuguesas no meio académico, tendo promovido e dirigido as licenciaturas em Filologia Portuguesa e em Estudos Portugueses e Brasileiros na Universidade de Salamanca, uma das mais antigas e prestigiadas Universidades da Europa, contribuindo de forma decisiva para fecundar o intercâmbio e a cooperação ibérica, aliados a uma visão de abertura ao mundo e ao saber que caraterizam o verdadeiro espírito universitário.
De entre as obras publicadas destacam-se “História da Literatura Portuguesa”, “Escritos de Unamuno sobre Portugal”, “Os portugueses na Universidade de Salamanca”, “Letras Portuguesas: literatura comparada e estudos ibéricos”, entre centenas de artigos em obras coletivas, revistas e atas de congressos. Fundou e dirigiu a Revista “Estudos Portugueses e Brasileiros” e criou do Grupo de Estudos Hispano-Lusófonos, centrado nos estudos comparativos das línguas e literaturas espanhola, portuguesa, brasileira e lusófona.
O Júri da 17ª Edição do Prémio Eduardo Lourenço, reunido no dia 02 de dezembro de 2021, decidiu, por unanimidade, atribuir o Prémio à Fundação José Saramago.
O Júri reconheceu o importante trabalho da Fundação José Saramago, que corporiza nos seus atos e princípios a ideia livre e criativa de um iberismo cultural e afetivo.
Constituída pelo próprio escritor e Prémio Nobel de Literatura em 2007, a Fundação tem desempenhado um papel relevante na promoção da cultura em Portugal e em Espanha e na defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos em todo o mundo.
O Júri da 18ª Edição do Prémio Eduardo Lourenço reconheceu os méritos académicos e científicos de Valentín Cabero Diéguez em particular o seu compromisso cívico com os territórios mais frágeis e a sua contribuição para a cooperação ibérica.
Valentín Cabero Diéguez, geógrafo, catedrático jubilado da Universidade de Salamanca, tem dedicado o seu trabalho aos lugares e às pessoas, às paisagens e aos valores patrimoniais e conhece com rigor os processos de transformação dos territórios mais vulneráveis da fronteira luso-espanhola.
Nas suas investigações destaca-se a direção de projetos científicos, sempre numa abordagem interdisciplinar, e em colaboração com estudiosos de diferentes países. É o caso, entre outros, dos projetos sobre Trás-os-Montes/Zamora, Beira Interior/Salamanca-Cáceres e a Raia Central Ibérica, visando a articulação das zonas fronteiriças e a cooperação entre os povos da fronteira.
Como afirmou Fernando Paulouro Neves, Valentín Cabero “é um geógrafo que faz do rumor do mundo uma grande paixão, elege a geografia (também) como fenómeno sentimental e de afetos e combina o local e o global numa articulação de densidade humana e cultural, convocando-nos à descoberta das particularidades para podermos perceber a condição humana na sua complexidade”.